Porque respeitamos mais a Cruz do que aos princípios de Jesus?



Está chegando o Natal, época de lembrarmos do nascimento de Cristo; montarmos o presépio de três estrangeiros na terra do Egito, perseguidos por um homem que se importava em apenas em manter o poder. Não ironizo a fé cristã, apenas mostro como a história pode ser contada de outro modo. Podemos identificar na história de Jesus a presença de uma minoria social e a preocupação de Cristo para com o vulneráveis (dentro e fora da religião).  Hoje, gostaria de avançar alguns meses no calendário Cristão e relembrar a Páscoa.; relembrar a Cruz para qual o bebê de Belém estava destinado a cumprir o plano de Salvação de nosso Deus!
Tendo em vista o show de horror que foi esse 2015, com tantas notícias deprimentes e amostras de intolerância por todos os lados, nos últimos dias do ano resolvi falar da Cruz de Cristo a partir de duas imagens. A primeira é essa:


Cruz.jpg


Trata-se de uma montagem realizada a partir  do trabalho do fotógrafo Erik Ravelo. Há uma simplicidade estética, poucos elementos compõem a fotografia, mas choca - e muito! Vemos crianças crucificadas em seus próprios algozes: pedofilia, turismo sexual, guerras, tráfico de pessoas e órgãos, empresas alimentícias e outros que podemos inferir a partir desses. Todas essas imagens aludem à infração de algum direito da infância. 

Consulte o documento da Unicef quanto aos direitos da infância aqui.


O nome do Projeto é “Os intocáveis”, muito sugestivo, afinal deveriam as crianças ser intocadas, mas, na verdade, são seus algozes os ilesos nessas situações. O subtítulo do ensaio é “O direito à infância deve ser protegido”.  
A segunda imagem é a foto da atriz Viviany Beleboni - que desfilou pendurada em uma cruz na Parada Gay de 2015. Segundo a atriz, era uma denúncia dos milhares de homicídios e crimes de ódio que decorrem da homofobia em nosso país, e não são poucos.


Viviany.jpg


Ambas imagens operam a cruz como instrumento de denúncia, apontando para a sociedade os seus pecados e crimes em relação a esses grupos oprimidos e sem apoio algum dos “homens de bem”. Tenho pensado muito no ensaio de Ravelo,  ele  me parece muito mais agressivo do que a polêmica envolvendo Viviany pendurada  numa cruz, pois ele mostra que para colocarmos nosso dedo em riste para acusar os pecados dos Gays, Mulheres trans, Homens trans e lésbicas é fácil. E, por causa disso, nos indignamos com a falta de respeito com a cruz.
Contudo, o ensaio com crianças penduradas em “cruzes” denuncia uma realidade que conhecemos bem e para polemizar o ensaio fotográfico de Ravelo, temos que discutir tráfico de pessoas, pedofilia, vendas de armas e outros crimes. E, olha só, quem se pronuncia? Quem atira a primeira pedra? Hein? (Me diga, certo deputado que desfila em carro aberto com uma arma na cintura?).
Para “atirar a primeira pedra” contra a população LGBT, todos se apresentam. Infelizmente. Fiquei meses me perguntando:  porque tantos cristãos se rebelaram contra a Cruz na Parada Gay e não com o ensaio de Ravelo? Será que é pelo fato de Ravelo trazer uma verdade que sabemos, mas não queremos denunciar. Ou porque simplesmente acreditamos que a infração dos direitos da infância não nos diz respeito?


João 8,7 E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.


A cruz é um símbolo muito importante para mim, sou cristã e professo a Jesus. Mas acho que temos entendido esse símbolo de forma errada. Ela não é objeto de adoração, ela é símbolo de que devemos nos mortificar, nos humilhar, sermos como Cristo. Fiquei imensamente abalada ao ver a quantidade de incitação ao ódio por causa da cruz de Viviany. Não deveríamos, ao invés de criar toda essa polêmica, refletir e pensar sobre a situação dessa população ali representada?
A cruz significa sofrimento, tortura, agonia, injustiça. Aqui, ambas apresentações estéticas  acionaram a cruz para sensibilizar a sociedade sobre o sofrimento dos invisíveis. O que temos feito, ultimamente, é ser juiz do Céu. Quem vai, quem não vai. Quem é pecador, quem não é.


"Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês.
"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho?
Como você pode dizer ao seu irmão: ‘Deixe-me tirar o cisco do seu olho’, quando há uma viga no seu?
Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.

Não posso concordar que a minha fé sirva de argumento para o extermínio de populações vulneráveis, seja a população LGBT, negra de periferia, mulheres, crianças,  carcerária, menores infratores. Não façamos da nossa fé um estandarte para a normatização do sofrimento dessas pessoas.
Respeitar a cruz, é mais do que defender um símbolo. Respeitamos -a em nosso coração, ao obedecer os mandamento de Cristo:


Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.

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