Diabetes e gravidez: relato da minha gestação
Foto tirada em 25 de setembro de 2012, dois dias antes da última internação. |
Fiz esse texto a pedido de um blog sobre maternidade e diabetes, da querida Kath (Blog Diabetes e você). Resolvi publicá-lo novamente, pois fala muito do que senti e passei nesse período. Graças a Deus, superamos: eu e o Rodrigo, meu amor! Segue o relato:
Hoje tenho 29 anos, à época da gestação tinha 26, trabalho como gerente de projetos de pesquisa, na Universidade de São Paulo, sou formada em Ciências Sociais e faço mestrado na Faculdade de Educação da USP. Tenho diabetes desde os 12 anos de idade e no começo foi bem difícil, fui bem rebelde e isso me rendeu duas complicações: retinopatia e nefropatia. Após um susto, quase fiquei cega, comecei a me cuidar e controlar mais a glicemia.
Aceitar a doença foi muito bom, isso ocorreu por volta de 2009, pois me senti mais incentivada a lutar pelos meus sonhos, ao invés de apenas reclamar da doença. Em 2011 me formei na graduação, em 2012 casei-me e logo depois engravidei. Quando descobri que estava grávida (um mês depois da lua de mel, risos) foi um susto, pois a minha glicada estava em 8,3 e não foi uma gravidez planejada, fazia uso de NPH e Lispro e usava canetas, para facilitar o transporte, já que minha vida era muito agitada e nunca parava em casa.
Meus pais e meu marido nunca pegaram leve comigo, levei muitas broncas e puxões de orelha por causa do mau comportamento. Mas eles nunca acharam que eu não pudesse fazer alguma coisa por causa da doença. Meu pai sempre me disse: “Não se esconda atrás da doença, você é melhor do que ela”. E foi assim que passamos pela gestação, acreditando que eu seria capaz de enfrentar tudo e que a doença não venceria, pensar assim nos ajudou muito.
Após confirmar a gravidez procurei meu Endócrino e decidimos procurar um gineco que cuidasse de mães diabéticas, mas tive problemas em encontrar no convênio médico alguém capacitado para fazer meu pré-natal. Como sou funcionária da USP o Hospital Universitário me encaminhou para o HCFMUSP, que tem um ambulatório específico para mães diabéticas, meus médicos responsáveis foram o Dr. Rodrigo Codarin e a Dra. Raphaela Alckmin. A melhor coisa que me aconteceu foi ser tratada no HC da USP, foi muito cansativo, pois a equipe médica é muito exigente, mas foi sensacional: os melhores profissionais e todos os exames necessários, inclusive ultrassom 3D. As consultas eram semanais e o ajuste de insulina constantes, pois com a gravidez a nossa sensibilidade à insulina muda e muito rápido, no começo da gravidez eu tive muitas hipers e no final muitas hipos.
Tive problemas emocionais, pois fiquei muito amedrontada de acontecer alguma coisa com meu bebê, o que me incentivou a seguir o tratamento à linha: não faltei em uma consulta sequer, foram 28 consultas de pré-natal, fora exames e as internações (duas no meio da gestação e a final, para ganhar o bebê - que durou 20 dias). Tive pré-eclâmpsia, o que dificultou mais a gestação e, então, me afastei do trabalho, pois a pernas inchavam muito e a pressão subia o que implicou em duas internações - somente para o controle da pressão, pois a minha glicada se manteve entre 5 e 6 durante a gestação.
No HC tive todo suporte de médicos, a quem sou eternamente grata, equipe de enfermeiros e da Cecília, a psicóloga que me ajudou muito, muito, muito! Com todo esse apoio, foi mais fácil levar a gestação. O bebê respondeu bem, cresceu conforme o esperado, eu fazia 7 dextros por dia e comia exatamente o que a Nutricionista me liberou para comer, foi uma maratona, mas o meu filho saiu ileso!
Quando descobrimos que era um menino, decidimos por chama-lo Bernardo, que significa bravo como Urso, ou seja, forte! E ele foi muito forte, várias vezes eu acordava de madrugada com ele me chutando, eu ia medir a glicemia estava 30, 24, 40... Me emociono de lembrar que ele passava mal também, mas não teve nenhuma sequela, ele sempre me acordou a tempo de corrigir a glicemia.
O parto seria induzido no dia 8 de outubro, mas como eu fiquei muito nervosa no dia anterior e ficava sozinha no hospital, pois estava internada e a visita era apenas da 16 às 17 horas, comecei a ter contrações no dia 7 pela manhã, assim fui encaminhada ao centro obstetrício, tentaram induzir o parto, mas após 8 horas de trabalho de parto, o bebê entrou em sofrimento fetal e resolveram pela cesárea. Às 20:35 do dia 7 de outubro de 2012 o Bernardo nasceu, lindo, saudável e vencedor. O meu maior medo era ele ter sequelas, mas ele não teve uma sequer, é um bebê saudável e inteligente, nasceu de 37 semanas, com 46 cm e 2.980Kg.
Ficamos 10 dias internados após o nascimento, pois eu tive uma infecção hospitalar, mas tudo foi resolvido e ficamos bem. Ele mamou até os 5 meses, como eu tive complicações renais, o endócrino sugeriu que não amamentasse além dos 6 meses, para poder tomar os remédios e para exigir menos do meu corpo. A minha recuperação foi tranquila, como fiz um controle rígido da alimentação, engordei apenas 5 kg, que perdi 2 meses após o parto.
Hoje levamos uma vida normal, faço meus controles e vou ao médico a cada 2 meses. Voltei ao trabalho aos 7 meses do Bernardo e para os estudos, quando ele fez um ano. Não é fácil levar toda essa vida, pois além de ser mãe, profissional, esposa, mulher, sou diabética e dar conta de tudo isso é muito cansativo. Mas dou conta, risos... Meu marido me apoia muito e sempre levo essa mensagem: “A doença não é maior do que eu, ela não vai me vencer!”
Para as grávidas diabéticas, desejo força e ânimo para enfrentar o desafio. Adianto que todo esforço é válido, quando vemos o rostinho e o chorinho dos pequenos esquecemos de tudo, é só alegria! Para as mulheres diabéticas que ainda não decidiram pela maternidade, não hesite diante das dificuldades, ser mãe diabética não é fácil, mas quem disse que tudo que é bom é fácil? Não deixe o diabetes tomar as decisões por você! Procure seu médico, se prepare e seja feliz! Responsabilidade não significa abrir mão, se houver força de vontade e dedicação é possível vencer os obstáculos, sejam muito felizes nas suas decisões!
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