Ocupar um espaço que é nosso: obrigada secundaristas pela lição!

As ocupações, que eclodiram por conta da reorganização escolar, me fizeram voltar a uns 6 anos atrás, quando fui professora da rede estadual de ensino do Estado de São Paulo. Eu fui professora de Sociologia durante seis meses em duas escolas, localizadas  na periferia de Osasco. Foi uma experiência forte, em todos os sentidos.
As duas escolas não eram muito diferentes na constituição do espaço físico, menos ainda na apropriação social desse espaço. Numa delas o grêmio nem funcionava. Na outra, uma colega se dedicava ao grêmio, mas a própria maneira da direção encaminhar a escola deixava ao espaço político estudantil apenas a tarefa de tocar uma “rádio” nos intervalos e organizar um passeio anual para o extinto Play Center - era muito pouco.
Quando cheguei nessas escolas, incauta e sonhadora, a primeira notícia que tive era que eu não teria o material didático - pois não havia as fatídicas apostilas de Sociologia para mim. Ok. Comecei a trabalhar com música e filme. Para música, eu levava o som de casa.  Para filme, bom, melhor nem comentar - pois a sala de vídeo não funcionava em ambas escolas. Os alunos, bom, a galera era tão resistente, tão endurecida: ao toque, ao sorriso, ao meu bom humor exagerado nas aulas de “nada”. Afinal, o que eram 50 minutos de Sociologia em uma semana de desespero?
Quando vi que as escolas ocupadas estavam funcionando tão bem, com oficinas, filmes, músicas, com os espaços abertos e utilizados. Afinal, biblioteca fechada é o que mais há nessas escolas de SP. Fiquei feliz, feliz porque ficou claro que as escolas não funcionam melhor não é por causa da “falta de vontade” dos alunos ou da “preguiça” dos professores. Dizer, como vi em minhas redes sociais: “Alunos querem mudar a escola? Estudem!”, é uma desonestidade intelectual.
Quando as escolas, sob a direção dos alunos, tiveram mais atividades culturais e formativas do que sob a direção estadual, vemos que não haverá condições para que as escolas melhorem enquanto os alunos, professores, pais e funcionários da escola não forem os protagonistas das decisões nos espaços escolares!
Não tive ação direta nas ocupações, mas me senti representada em cada notícia; cada amigo que ia ministrar uma oficina; cada manifestação dos estudantes! Não há outra maneira! Se quisermos melhorar a educação, a resposta está aí: a comunidade escolar é quem deve se autogerir, decidir como os espaços serão utilizados; como serão organizados; desde o cardápio das refeições ao estudo do meio que será realizado!


Obrigada estudantes, vocês me deram uma aula de cidadania! Obrigada por mostrar para nós que somos capazes, apenas não temos coragem!


Feliz ano novo!


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