Licença maternidade ou licença para ser mãe?

Nina nasceu
Hoje é o dia da volta, da separação diária de mais de 12 horas, por 5 dias seguidos, 40 horas semanais: sem colo, sem amamentar, sem cuidar da Nina. Tenho pensado imensamente nisso: licença maternidade ou licença para ser mãe? Quando engravidamos temos, por lei, direito a nos ausentar quantas vezes forem necessárias para o pré-natal sem prejuízo algum no trabalho (na teoria, porque na prática, as empresas não promovem grávidas, não investem na formação delas ou as deixam responsáveis por grandes projetos - haja vista a iminência da ausência de 4 ou 6 meses). 



1 mês
Após o nascimento, temos de 4 a 7 meses para cuidar do bebê, nos adaptar ao bebê e para o bebê se adaptar à vida fora do útero. Durante esse período, estabelecemos um ritmo de cuidados e uma rotina bastante maleável com o bebê: não há necessidade de cumprir horários rígidos, os dias podem ser curtos e as noites compridas; podemos ir ao parque, à praça, à casa da vó e de amigos para as pessoas conhecerem o bebê. Quando a volta ao trabalho se aproxima, várias tensões acometem o lar (aqui em casa, as duas crias ficaram muito resfriadas, várias idas ao PS, inalações e noites mal dormidas), precisamos preparar as crianças para a ausência da mãe, acostumá-las com o novo cuidador, estabelecer uma rotina cheia de horário - que com certeza vai ser desrespeitada - etc. 
A grande questão não está em voltar ao trabalho ou deixar o trabalho, essa decisão é do universo particular de cada uma, mas como acontece a volta ao trabalho e à rotina anterior ao nascimento do filho. Em outras palavras, parece que esses 7 meses, no meu caso, foram uma licença que obtive para ser mãe dos meus filhos, adaptando a minha rotina à necessidades deles. Agora, não sou mais uma mãe em exercício, mas uma trabalhadora cujos filhos têm que adaptar às necessidades da rotina da mãe. Eu, particularmente, acredito que teríamos crianças mais saudáveis, física e mentalmente, se as/os mães/pais pudessem sair do trabalho antes do anoitecer e levar os filhos à praça; se pudéssemos revezar entre pai/mãe as dispensas para que os filhos tivessem um tempo de qualidade com ambos. 



2 meses
Sim, acredito que produziríamos da mesma maneira, se pudéssemos ver nossos filhos acordarem, se tivéssemos almoços mais longos para levar/buscar filhos na escola. Não se trata de não ser responsável com sua profissão/ trabalho, se trata de entender que as/os mães/pais não precisam de uma licença para serem mães/pais. O que precisam é de espaço em suas agendas para serem mães/pais e não serem vistos como outsiders por desejarem isso.

3 meses
4 meses



4 meses




5 meses
Esse pensamento é gancho para discutirmos as diferenças salariais entre os gêneros, o porquê as mulheres abrem mão da profissão pelos filhos, porque as mulheres têm tido filhos cada vez mais tarde ou a masculinização das grandes diretoras, CEOs ou até mesmo das trainees em grandes empresas. Sim, todas essas questões se imbricam na maternidade e na gestão da vida doméstica. Contudo, hoje, apenas penso: porque tenho que, de cara, deixar minha filha 12 horas longe de mim, porque essa nova etapa de nossas vidas não pode ser introduzida de forma processual? A adaptação da creche é muito tênue, porque, na verdade, nos dias que a criança começa a conhecer o novo espaço, ainda não estão inseridos o novo humor da mãe, trânsito, horários, etc. A introdução dessas novas demandas é brusca. A Nina esteve em processo de adaptação à nova cuidadora, mas não sabe bem dos novos cheiros que estarão em minha roupa, o seio que encheu de leite e não deu tempo de ordenhar, a má alimentação, baixa ingestão de liquidos e todos os imprevistos do cotidiano de quem trabalha em São Paulo.

6 meses
Para além das necessidades das crianças, os espaços das empresas não estão adaptados para as necessidades da nova mãe: espaço para ordenha (na maioria das vezes nos resta o banheiro, que não é salubre, né?), um local para armazenamento desse leite e esterilização dos apetrechos da ordenha. Permissão de saída para qualquer eventualidade que ocorra com os filhos (não só questão de saúde com atestado médico) e a garantia de ter os filhos próximo do seu trabalho (os meus, por exemplo, estarão a 15 km de mim). Parece que quando voltamos ao trabalho, temos que voltar como antes, sem intercorrências, sem emergências, sem ter mudado, disfarçando não ter alguém que depende 100% de nós.

7 meses
E para quem acha que a licença maternidade é uma pausa na vida da mãe, que ela se torna improdutiva e menos competente (e por isso, não se deve depositar trabalhos importantes nas mãos de gestantes, lactantes e mães de crianças pequenas), eu e Nina participamos de diversas oficinas, palestramos, escrevemos muitos textos (nós, porque fizemos tudo juntas). A licença maternidade me mostrou que é possível produzir de maneira respeitosa, perto de nossas crias. A licença maternidade, um momento intenso de amamentação, descoberta filho-mãe, recuperação do parto e das mudanças da vida, não deve ser confundida com licença para ser mãe, pois após 6 meses continuamos sendo mães, mães trabalhadoras, que produzem e contribuem para a sociedade. Sou uma mãe que acredita que ter minhas necessidades e as necessidades dos meus filhos respeitadas não é um privilégio, é um direito!



Nina em Oficina na Livraria Tapera Taperá


















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