Quando dói perder o satus quo

No último domingo, aconteceu a “Marcha contra a Corrupção” que foi um evento grande, com convocatórias de políticos (sem partido, han?), veículos de comunicação e até empresas de fast food. O protesto não me representa, por inúmeros motivos e, principalmente, pelo fato de ser uma estratégia para blindar alguns corruptos e enfraquecer o governo que, sim, foi eleito democraticamente e, até onde sei, esse é o princípio da democracia: se 54 milhões votaram na chapa PT/PMDB e 51 milhões na outra, a maioria vence (seja com 70% ou 51%).
Beleza, numa sociedade de padrões opressores,
é acionada como argumento
Tenho inúmeras críticas ao governo Dilma, por desrespeitar a sua base social, não ter peito para os ajustes necessários, não colocar em pauta as discussões urgentes e ainda beneficiar empresários (diga-se de passagem que o lance da Samarco foi um horror, deliberadamente o governo atuou em causa da mineradora ao tornar o acidente em desastre natural e, ainda, não agir como deveria ter agido num desastre que, na verdade, foi um crime ambiental).  Evidentemente, todas essas críticas, e outras que eu poderia fazer, não estiveram em pauta no último dia 13 e eu nem esperava que estivessem.
Tendo em vista os arroubos de mudança, esse texto tem o objetivo de escancarar que o “Novo Projeto de Brasil” é mais do mesmo. Acompanhei as manifestações pelas redes sociais e pela TV, para mim houve um show de horror (de várias perspectivas): a exposição de indivíduos, o exagero das argumentações, a deslegitimação dos lugares de fala, etc.  Sim, como tem sido recorrente nas falas, tudo isso virou um grande Fla x Flu. Contudo, enxergo um ponto pacífico nas críticas que, praticamente, é irrefutável - mesmo para os apoiadores do protesto - o machismo foi a linguagem dos manifestantes. Infelizmente.


Expulsaram o Aécio: “Fora, filha da puta”
Eram contra a Dilma: “Balança que a quenga cai”; “Baranga”; “Vagabunda”



A misogenia, o feminícidio e o machismo estiveram presentes e, diria mais, houve um proselitismo dessas ideias opressoras e desrespeitosas. Mais do mesmo! Vivemos num país em que as mulheres são julgadas pelas suas roupas, pelo exercício de sua sexualidade, por suas opções de maternidade/ou não, pela sua dedicação às profissões “masculinas”, etc. Mulheres são mortas por dizerem não aos namorados, maridos e pretendentes.  Mulheres são assediadas nos trens, parques, ruas, faculdades, trabalhos e, o pior de tudo, em seus próprios lares. E o que acontece num mega evento como o do último domingo?
“DILMA, PENA QUE NÃO TE ENFORCARAM NO DOI-CODI”


Imagino que, para essa parcela da população, deva ser difícil fazer parte de um pais que tem uma mulher no maior cargo executivo do país. O mais intrigante é que 5 dias antes dos protestos as redes sociais estavam cheias de flores e declarações para a mulher e sua feminilidade. Passado o 8 de março, temos os  xingamentos mais misógenos possíveis, que lembram a todos que a vagina é sinônimo de liberação para vincular desaprovação à Presidência da República ao órgão sexual da Dilma.
“FEMINICÍDIO, SIM”
Não há como lutar por um país mais justo, sem corrupção, se o desrespeito à mulher está instaurado. Se protestar contra um governo é atacar à sexualidade de uma mulher. Se a incompetência está diretamente ligada à vagina.  Se não se julga uma presidente por seus atos, mas por ser uma mulher. Não, isso não é um país novo. Sinto-lhe dizer, mas é uma luta pela manutenção do status quo, no qual a sociedade mantém suas relações de poder (quer seja sobre a mulher, o negro, o homossexual, o pobre, ou seja, sobre os vulneráveis)
Os protestos não me representam e diria que há um enorme equívoco no clamor ao “combate” à corrupção. Do ponto de vista de uma mulher, foi humilhante ver nas palavras de ordem, cartazes e postura dos manifestantes a misoginia incrustada na sociedade brasileira. Nesse novo “projeto de Brasil” a dignidade feminina não está em pauta, sendo assim, definitivamente não me representa.  Se um país melhor não comporta a dignidade feminina, se o respeito à mulher não está nesse novo projeto de país, NÃO ME SERVE!


Para você que não acredita que existe feminicídio (matar alguém por ser uma mulher), veja esse vídeo:




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