A Caridade "Anônima"

Quem acompanha esse blog há algum tempo, já percebeu que aqui levanto a bandeira da Garantia dos Direitos - de todos! Embora seja um Blog que procura problematizar a sociedade cristã e colocar a crítica à opressão que a Igreja ajuda a propagar, nem sempre a Igreja é o alvo da crítica e hoje esse é o caso. Nessa última semana, o que “bombou” na rede foi a foto da Xuxa com três garotos que faziam malabarismo em algum farol para completar o orçamento doméstico escasso. Isso realmente exaltou os ânimos, tanto para defender como para denunciar a ação da Xuxa.
Pois bem, há algum tempo já desejo escrever a respeito da “Caridade Anônima” e acredito que essa seja uma boa ocasião. Há uma passagem muito famosa no sermão do monte (que pode ser lido nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho segundo a São Mateus), em que Jesus Cristo orienta: “O que a sua mão direita fizer a esquerda não deve saber”, Mateus 6,3. O que isso significa? Simplesmente, que ninguém deve se promover em cima de caridade ou qualquer ação social que venha realizar, o que, de fato, é o que mais acontece hoje em dia: a fetichização da pobreza!


Leia um texto ótimo da Djamila Ribeiro aqui


Vivemos numa época em que ajudar ao próximo vende, e vende muito! Coisas como: "Se você comprar hoje um lanche a renda será convertida para o Instituto do Câncer X"; "se você ligar, poderá doar para o projeto Y"; "se comprar 10 pacotes de fralda 1 vai ser doado para o orfanato Z" e assim por diante… Mas, Simony, você é contra a doação que as empresas fazem? Você não se importa com as crianças que elas ajudam? Me importo, e porque me importo acredito que quem deva fazer isso é o Estado ao garantir os direitos! Contudo, também participo de muitas ações sociais que ajudam as pessoas que o Estado esqueceu, mas quando for aquela do "palhaço" lá, não!
O que acontece é que a pobreza vira propaganda, baixa e barata! Uma lógica na qual o Estado se omite de fazer o que é devido para garantir os direitos dos cidadãos e incentiva que a iniciativa privada realize “ações sociais”, com isenção fiscal,  não pode ser chamada de ajuda - ou coisa parecida. É muito mais barato do que lançar uma mega campanha no horário nobre: sensibiliza o cidadão e faz com que ele sinta que está ajudando a Instituição, mas, na verdade, está enricando o dono da empresa, isso sim!
Mas, no que isso tem relação com a Xuxa e os garotos no farol? Ela se promoveu, pareceu uma pessoa muito boazinha que cumprimenta seus fãs, independentemente de quem seja. Ela conseguiu valorizar a imagem dela de “Rainha do baixinhos”, mas com um preço muito caro. Por que ela não usou sua fama e poder de influência para problematizar o trabalho infantil? Para denunciar que esses garotos, ao invés de estarem na escola ou em atividades culturais, estavam expostos a violência e assédio (de todos os tipos) que a rua tem a oferecer? Viram? Ela naturalizou o que é um absurdo, e todos acharam que ela é boazinha por ter um instituto de caridade (que, diga-se de passagem, desconta milhões em todas as declarações de Imposto de Renda dela). Numa sociedade que prima os princípios cristãos, inclusive distorcendo muitos para justificar suas arbitrariedades, se esqueceram de dizer que se promover à custa da pobreza não pode! Segundo o evangelho de Cristo, devemos ajudar as pessoas como nós mesmos gostaríamos de ser tratados - e eu aposto que se alguém expusesse a Sasha, sem a autorização da Rainha, arranjaria sérios problemas!
Quando for participar de alguma campanha em prol de alguma causa, pense bem! Existem muitas instituições sérias que fazem um belo trabalho, não só de acolhimento, mas de militância, também! Doe fraldas, sabonetes, absorventes, leite em pó e outras coisas para Casas que acolhem vítimas de violência doméstica e sexual, casas que abrigam imigrantes sem trabalho, etc. Não se deixe seduzir, e muito menos enganar, pela lógica da Xuxa no Farol!

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