Por que queremos registrar tudo, se o que temos que lembrar esquecemos?

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Pessoas observando Araras no Pantanal - MS
Eu mesma já cheguei a tirar milhares de fotos em uma viagem. Tenho dúvidas se depois vi todas. Acho bom poder registrar os momentos, aliás, tenho muitos registros da infância do meu filho. A grande questão é, vale a pena registrar tudo? Afinal, aquela tarde em que você viu aquele pôr do Sol; aquela arara que pousou no seu ombro; aquela luz iluminando o prédio antigo… Enfim, são memórias e memórias que não farão sentido para outras pessoas - que não você.
Fiz o exercício de olhar fotos de viagens e experiências passadas e foi bom, mas não teve o mesmo efeito de lembrar daquele nascer do Sol, às 3:45, no nordeste... Faça um exercício: experimente chegar perto de alguém e comentar alguma coisa sobre o que ela está fotografando: “Nossa, essa estátua é muito linda mesmo! O que será que o escultor estava pensando?” Tenho quase certeza que a pessoa se assustará. O que me chama a atenção nessas cenas nas quais tem um monte de gente fotografando é que as pessoas não interagem entre si e nem com o ambiente.
Fico pensando: quão rico seria se as pessoas trocassem impressões e experiências ao observar uma obra artística, um animal ou um lugar bonito. Acredito que isso tornaria a experiência muito mais rica do que um registro em seu Smartphone. As tecnologias revolucionaram tudo, inclusive, o jeito de se relacionar. Não sei se gosto desse jeito.

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Araras, será que eu consegui um belo ângulo?
Assisti uma peça recentemente sobre as guerrilheiras do Araguaia, e o introito dizia: “..,guardem suas câmeras e celulares, porque querem registrar isso se o que temos lembrar esquecemos?”, achei oportuno. Você se lembrou de dar bom dia para o seu vizinho hoje? De sorrir para o porteiro? De brincar com aquele cãozinho que fica na porta do trabalho? De observar o dia sem, necessariamente, ter que que registrar no melhor ângulo?

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