Conhecereis a verdade e ela vos libertará...

         Tive o prazer de escrever esse texto para o Blog Escreva Lola Escreva, é uma visão pessoal da igreja e um relato da experiência de ser a outra ponta. A maioria da igreja evangélica hoje é de mulheres, uma grande parte negra, mas a liderança é maciçamente homem e branca. Há incoerência, será que de fato a religião, não a Fé, cristã representa a todas? Acho que o Dia Internacional da Mulher é um belo dia para refletirmos sobre isso! 




Chamo-me Simony, sou Cristã e vou contar um pouco da minha aproximação com o feminismo. Minha igreja é de tradição reformada e, na nossa história, temos um exemplo de que nem sempre nos ensinam tudo o que devemos saber: Lutero. Martinho Lutero foi um dos pais da Igreja Reformada e após ler a Bíblia atentamente se deparou com um texto bíblico paulino de Romanos 17:1: Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé"
Durante toda a sua vida, Lutero não sabia qual era o verdadeiro sentido da Graça de Deus, ele (e tantos outros católicos) achava que devia fazer coisas para alcançar a salvação. A Igreja Católica se dava bem com isso: as pessoas compravam a saída do purgatório para parentes que já haviam morrido; um terreno no Céu; uma absolvição de um pecado; uma graça desejada. Essa prática configurava as famosas indulgências!
            Em que a história de Martinho Lutero tem relação com a minha recente aproximação com o feminismo? Pois bem, durante toda a minha vida eu tive uma educação repressora e castradora, e não falo de vida sexual, apenas, mas de tudo. A mulher tem que se dar o valor; se o lar está destruído foi a tola que destruiu; a mulher tem que ser submissa ao homem; a mulher não pode ter cargos importantes na Igreja; etc. (na minha denominação apenas muito recentemente as mulheres puderam ser ordenadas Pastoras).
            De um tempo para cá, comecei a ler a Bíblia com uma atenção para a participação das mulheres e, ainda, sobre os textos que eram utilizados para justificar a opressão da mulher na igreja. A minha nova visão da Fé foi libertadora, passei a ver que, na verdade, a minha Fé não fundamentava o que me ensinaram, mas o fundamento de tanta opressão era a interpretação (e descontextualização) que os líderes da igreja davam para a Bíblia.
            Passei a desconfiar da manipulação que faziam dos textos bíblicos para calar as pessoas, principalmente a mulher.  Comecei a perceber que a “mansidão” (que para mim é, na verdade, uma apatia desejável para a manutenção das relações de poder dentro da Igreja) só servia para um lado da relação: os oprimidos. Para a mulher ou o pobre que não concordava com alguma coisa na Igreja. Ou seja, para atacar o “pecado” utilizavam o texto em que Jesus expulsava os vendedores do templo. Quando uma mulher se levantava para denunciar um machismo sofrido no lar, um desrespeito de um irmão da igreja, etc, utilizavam o texto que devíamos ser mansos como Cristo.
            Comecei a me perguntar: quando eu teria o direito de “expulsar” os machistas da minha vida, como Cristo expulsou os mercadores da sinagoga? Passei a me perguntar, por que alguns podiam ser agressivos e outros não? Passei a me perguntar: por que minha igreja nunca tinha tido, e ainda não teve, uma presidente mulher? Por que a maioria dos conselhos das igrejas é formada por homens (poucos têm mulheres na sua formação)? Se, quando Jesus apareceu após a ressurreição, se apresentou para uma mulher (Maria Madalena). Se, foi uma mulher (Débora) que dirigiu Israel quando Baraque teve medo da guerra. Se, duas mulheres (Eunice e Lóide) foram consideradas exemplo de fé, segundo Apóstolo Paulo… Sem contar outras histórias de mulheres que devem ter  sido silenciadas nesses milhares de anos.
            Descobri que a minha fé não é machista, foi a religião que a fez assim. Acredito no casamento cristão, no sacrifício de Jesus e em todas as coisas que têm na Bíblia, mas fui liberta de regras que homens colocaram para nós, mulheres, por causa de relação de poder e não por causa de Deus! Ao me aproximar do feminismo, aprendi que a minha fé não deve me aprisionar e nem ao próximo, que não acredita nela. Aprendi que Jesus jamais julgaria alguém com credo ou condutas diferentes da Dele (acreditem, li a Bíblia toda e não há um momento que Jesus julga a Fé alheia ou o comportamento, todas as exortações de Cristo eram para as pessoas que compartilhavam a fé Dele). O feminismo me possibilitou entender melhor o mundo e a amar, independentemente de quem ou quando, exatamente como o amor de Cristo.
            Voltando à história de Lutero, ele descobriu que os líderes da Igreja manipulavam as pessoas com meias verdades e, até, com algumas mentiras. Eu descobri que o machismo incrustado dentro da igreja é o que aprisiona e causa sofrimento às mulheres. A partir de então, digo que a verdade é o caminho para a verdadeira libertação. E como nós nos libertamos? Quando desconfiamos de uma verdade que causa opressão e buscamos a verdade do amor!
E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.

João 8, 32

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