GUEST POST: A triste realidade dos abusos contra a Infância

         Conheci Leno em um congresso da nossa Igreja. Ele, de forma muito corajosa, ostentava uma camiseta com dizeres cristãos e  uma advertência: Disque 100, denuncie! Fiquei encantada. Em nossa igreja é muito difícil falarmos de temas como esse, na verdade, a maioria dos cristãos fecham os olhos para os abusos que muitas pessoas sofrem em decorrência do Machismo. 
         Pedi para ele escrever sobre a experiência de combater, na sua atividade como Educador Social e Cristão, a Violência Sexual contra a criança, segue o texto:

Dica: leiam pensando na criança mais próxima de você, que você tem mais amor e,  depois reflita: será que realmente devemos fechar os olhos para isso?



Um dia desses fazendo meu trabalho de campo para uma instituição social, cheguei  numa casa, cumprimentei o menino que estava no portão, consegui  arrancar um sorriso tímido dele, entrei e, conversando com mãe, logo descobri que o menino não tinha se quer certidão de nascimento, aquilo me doeu no coração e, daquele dia em diante, olhei para as crianças - aquelas às quais o reino dos céus pertence - de outra forma.
Aqui na nossa terra, chamada Brasil, o abuso sexual é a segunda maior violência contra crianças. No ano de 2014 foram registradas 91.342 casos de negligencia, violência psicológica, física e sexual. A violência sexual é a que costuma causar grande alvoroço na população, mas a violência sexual nunca vem sozinha, com ela vem o abandono e a negligência.
Devemos falar sobre o quanto isto é grave, sobre os números todos devem estar cientes. Devemos ir além! Por ser um problema tão grave, é pouco combatido. A atual Igreja Evangélica  traça pautas morais e ideológicas, fazendo com que essas sejam a missão prioritária de Deus para o seu povo e com isto esquecemos de lutas que nos fariam impactar de fato esta nossa sociedade, impactar de fato o mundo, não estou falando de congressos que reúnem­­­ multidões, histeria e choro que dura cerca de duas horas, mas logo o “mover do espírito” passa.
Na comunidade em que moro temos um projeto localizado dentro da comunidade onde são atendidas as crianças. Neste projeto uma menina, que vamos chamar de “Maria”, passava a manhã e a tarde no projeto e, quando anoitecia, logo ficava triste e angustiada. No primeiro momento pensamos que era apenas porque ela realmente gostava de estar no projeto, mas logo descobrimos que não, ela passava manhã e tarde conosco porque durante o dia sua mãe trabalhava e o padrasto abusava dela. E, quando sua mãe dormia, ele cometia o abuso sexual, novamente.
Conseguimos identificar esse caso e tomar as atitudes corretas, mas quantas “Marias” estão por ai sofrendo abuso dentro do seu próprio lar? Tem “João” também sofrendo abuso, é muito maltratado. Descaso com aqueles que têm o Reino o Céu como pertence. Enquanto a “Maria” e o “João” estão sofrendo todo tipo de abuso, nós, “a geração eleita”, estamos “gritando e chorando”, ao passo que mercenários fazem seus shows de “autoengrandecimento”. Estamos perdidos e longe de sermos parecidos com Jesus. Quando viramos as costas para estes pequeninos, estamos fazendo o mesmo que fizeram os discípulos de Jesus: impedindo as crianças de chegarem até Ele. Jesus nos fala “Deixem vim a mim os pequeninos, pois deles é o reino dos céus”.  
Deixo aqui algumas dicas de como conversar e se comportar com uma criança que sofreu abuso:

- mostre que ela não teve culpa nenhuma no abuso, não foi ela quem seduziu o seu agressor (muitas crianças criam este tipo de pensamento e acham que foram elas quem seduziram e, assim, se entregaram às experiências  sexuais sem segurança ou consciência nenhuma);
- trabalhe a autoestima dela, fazendo com que se sinta aceita no grupo da Igreja, Escola e na família (após o abuso elas costumam achar que ninguém as quer por perto, porque elas “fizeram” algo muito feio);
-é necessário que tenha o acompanhamento de um profissional.
Praticar estas dicas de conscientização é o que podemos fazer durante o dia ao lado da criança. Vamos olhar para aqueles que devem ser cuidados; vamos ser a religião pura e sem macula conforme São Tiago nos fala, aquela religião que cuida e luta pelos oprimidos, fracos e indefesos - lutando por estes, seremos a Igreja de Deus e aquela que anuncia o Reino d'Ele.  Lembrando Leonardo Boff: “Todo menino quer ser homem, todo homem, quer ser rei, todo rei que ser deus, mas só Deus quis ser menino”.
                              
                                                                                          Lenilson Coelho
                                       ( Educador social/ estudante de teologia na FATIPI)

               



Saiba mais sobre como denunciar violência contra a criança AQUI!

Comentários

  1. Tema difícil. Fico feliz pela abordagem. Quase ninguém quer falar deste assunto. Sou voluntária em uma instituição em que inúmeras crianças sofreram abusos sexuais. É uma triste realidade, mas com a mobilização de cada um será possível revertê-la. Essas dicas foram muito úteis - várias vezes me deparo com crianças reservadas e é complicado saber como agir. Obrigada por compartilharem! E que em 2016 esses dados de abusos diminuam!

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    1. Muito Obrigada por acompanhar o Blog, querida, que mais pessoas pensem como nós! Se estiver gostando dos textos, compartilhe. Essa iniciativa é para tentar sensibilizar as pessoas para que pensem de uma outra forma, com mais amor!

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