O Filho e a mala


O filho e a mala

E ele foi. Foi dando tchauzinho com as pequenas mãos, carregando uma mochilinha de sapo e uma malinha com seus pertences: a cobertinha, os paninhos, os carrinhos e as letras. Ah, as letras, como ele gosta delas, não se cansa de ordená-las em ordem alfabética, separar as vogais das consoantes e formar palavras. Ele ama as palavras! Ele ama, também, a praia. Quer fazer castelo de areia, quer ver as ondas, quer usar boné, óculos escuros e passar protetor “celular”.
Ele tem apenas 4 anos, mas poderia ter 15 indo para o intercâmbio ou 30 indo para a viagem de lua de mel.  O fato é, dói. O crescimento dos filhos dói. Enquanto eu arrumava as malinhas dele, imaginava: quantas vezes verei a bagagem dele arrumada no chão? Quantas vezes ele falará: ‘Tchau, mãe’ e eu ‘Boa viagem, filho’. Até que um dia o tchau será depois de cada visita, pois ele terá a sua casa, a sua vida e a sua família.
Alguns dias atrás, ele me pediu colo e para eu cantar uma música de Ninar. Enquanto eu entoava: “Nana nenê que a cuca vem pegar…” ou “Se essa rua, se essa rua…” e, ainda, “Agora eu era herói e o meu cavalo só falava inglês…”, pensava:  ele não cabe mais no colo, suas pernas estão penduradas e os braços desajeitados. Ele está crescendo e ficando tão independente.
A independência é paradoxal, ao mesmo tempo em que ficamos felizes por vermos os filhos crescerem, aprenderem e se desenvolverem, sentimos dor. A dor do crescimento, aquela que dói um pouquinho cada vez que a perna estica, ou aquela estria nas costas na época do estirão. O crescimento deixa marcas, muito boas, contudo, saber que eles estão cada vez mais autônomos e precisam menos de nós, fere um tantinho. Não somos mais suficientes, não somos heroínas e heróis.
A alegria,a cada conquista, é inevitável. Agora, nesse momento, ele está rumo à praia com os avós: não usa mais fraldas, não chora para dormir, não quer apenas a mamãe e o papai. Nós, enquanto pais, estamos cumprindo muito bem nosso papel de criar alguém para a vida, só falta dizer isso para o coração.

As malas, quantas delas verei? Que sejam muitas e que voltem sempre recheadas de boas histórias e alegrias!

Comentários

Postagens mais visitadas