Quais números têm formado as nossas famílias?

Essa é uma pergunta engraçada, prontamente você poderia me responder: Eu, meu cônjuge e meus filhos. Mas não é propriamente desses números que falo, mas de uns números que sorrateiramente andam nos assustando e direcionando o tamanho de nossas famílias.
Em revistas de maternidade esse é um tema bem frequente: “Quando devo ter o segundo filho”? Essa é uma preocupação das famílias, os pais preocupam-se com o filho mais velho, preocupam-se com a carreira, com o tamanho da casa e até com o tamanho do carro. E há um item que muito tem pesado nessa conta: os gastos. Ultimamente, os gastos com a criação têm determinado quantos filhos desejamos ter. Não são raras as famílias que são formadas por filhos únicos e não as critico, essa escolha é pessoal.
Mas uma coisa me incomoda nessa história toda, é a famosa frase: “dar do bom e do melhor”, ou, ainda, “dar tudo o que eu não tive”. Pagar a melhor escola, o melhor curso de inglês, a melhor festa de aniversário, as melhores férias de verão, os brinquedos da moda, etc. Recentemente descobri que estou grávida do segundo filho, extremamente desejado e planejado, com a graça de Deus teremos a sonhada família, dois filhos, no mínimo (risos).  Fomos muito parabenizados, muitas pessoas comemoraram conosco, justamente por saberem o quanto desejávamos isso. Mas, por incrível que pareça, ouvimos também: “Nossa, que coragem, e os gastos?”, “como você terá tempo para duas crianças?”, “Era melhor ter um único filho, para poder criá-lo bem”.
Essa experiência me deixou muito pensativa, uma vez que sempre que desejamos ter filhos (no plural), sempre pensamos em criá-los da melhor forma, dentro das nossas possibilidades, claro. Acredito que devamos ser responsáveis em nossas escolhas, afinal trata-se de um ser humano com necessidades e totalmente dependente dos pais.  O que me deixou espantada foi o ideal do “bom e do melhor”, como se fosse uma obrigação ter uma casa que tenha um quarto para cada filho, uma viagem anual e muitos passeios.
Vivemos numa era na qual os eletronic devices são mais do que acessórios, estes aparelhos têm pautado o nosso comportamento em sociedade. Eles duram pouco, são caros e têm uma série de funções - que nem sempre são necessárias. E, infelizmente, percebo, na minha rotina de quem trabalha na área da educação, que esses valores têm pautado as relações sociais. Afinal, necessitamos do bom e do melhor sempre, não? E nos relacionamentos nem sempre ficamos com a melhor parte, às vezes faz-se necessária a resignação e a abdicação de nossas vontades.
Como temos ensinado isso aos nossos filhos se repetimos como um mantra: “Darei para ele do bom e do melhor”, “Darei para ele tudo o que não tive”. Devemos ensinar aos nossos filhos, também, que às vezes ter um brinquedo um pouco inferior não é tão ruim, quando se tem uma boa companhia para brincar. Que viajar para uma cidade vizinha pode ser tão excitante e divertido quanto conhecer à Europa.  Que ter irmãos não é ter um pouco menos, pois existem mais gastos e menos conforto, mas é ter mais companheirismo, amor e amizade.
Esse medo de não ter como criar os filhos, ainda mais em época de crise econômica, afeta os novos casais, afeta os pais de um único filho e afeta aos jovens, também. Pois o medo de não dar conta financeiramente supera, e muito, o medo de não saber criá-los enquanto pessoas e seres humanos amáveis e tementes a Deus. Faça uma experiência, pergunte para um jovem casal do que eles têm medo na criação de um filho, a grande maioria tem respondido: “É muito caro ter um filho”. Será que a lógica de ter o melhor smartphone, tem afetado o desejo de formamos famílias? Devemos pensar sobre isso.
Acreditamos, Rodrigo e eu, na importância do amor de irmãos, da divisão e da soma causada pela relação fraternal. Evidentemente, quando escolhemos ter um segundo filho, devemos estar cientes de que haverá cortes de alguns “luxos”, viagens mais curtas e mais baratas, troca das marcas preferidas, lazer mais barato e alternativo, roupas de promoção, etc. A grande questão é: do que temos medo? De não conseguir sustentar nossos filhos ou de não garantir a eles uma infância mais abastada do que a que tivemos?
Não, essa não é uma obrigação, não se sinta obrigado a criar seu filho com mais mordomia ou conforto do que você teve em sua vida. Esse é um peso que não devemos carregar. Devemos criar nossos filhos para serem excelentes cristãos, servindo a Deus e ao próximo. Pense bem, pagar aquela escola bilíngue para o seu filho quando ele tem 3 anos de idade é tão importante assim?
Essa ansiedade que o mundo capitalista gera em nós, tem nos roubado saúde, oportunidades de viver e de sermos mais felizes. Infelizmente. Essa ânsia pelo melhor, sempre, não é tão saudável quando começa afetar decisões que nem sempre tem relação com a nossa capacidade de nos manter no centro do mercado de consumo. Para mim, o medo atual é: “como me manterei com o meu padrão de consumo se resolver ter tantos filhos?” Deixo para o fim dessa reflexão um texto muito necessário nos dias de hoje: Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós (1Pe 5:7). Deus nos abençoe!


 

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